terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Globo aposta na "dramaturgia real" sobre política

Tudo começou com uma cena cômica, no último capítulo da novela Paraíso Tropical. A garota de programa Bebel (Camila Pitanga) depunha em uma CPI, adorando os flashes dos fotógrafos. Era uma sátira aos escândalos envolvendo, na época, a jornalista capa de Playboy Mônica Veloso e o ainda senador Renan Calheiros. O tempo passou e a Rede Globo continuou atenta à audiência dos casos quentes da política brasileira.

A diretoria da emissora estudou muito até chegar a um formato adequado para incorporar essas legítimas manifestações da cultura tupiniquim à programação. A telenovela era o produto mais indicado, mas os reality shows também eram fortes concorrentes. A solução foi juntar os dois num novo conceito de dramaturgia real, que agora deve ser a tendência para a televisão brasileira.

O primeiro capítulo foi gravado na última semana durante uma audiência pública no Congresso Nacional sobre a transposição do Rio São Francisco. Um elenco de globais escalado para a trama compareceu ao evento e seguiu as determinações do diretor Aguinaldo Silva. Os atores deveriam interagir com as pessoas presentes com diálogos improvisados, sem dizer que tudo fazia parte de um novo programa.

A cena principal teve a protagonista Letícia Sabatella no papel de uma mulher batalhadora, engajada em causas sociais. Junto com ela, o desavisado deputado federal Ciro Gomes, que defende o projeto da transposição. De longe, as câmeras captavam tudo e, no fim, uma fala de parlamentar pareceu até ter saído da cabeça de um roteirista. “Escolhi a opção de meter a mão na massa e às vezes suja de cocô”, disse ele.

Era a glória. Aguinaldo Silva caiu para trás. Os atores Osmar Prado e Carlos Vereza, que também foram escalados para a atração, aplaudiram de pé a performance. “Vamos gravar todo o programa em Brasília. A idéia é colocar os políticos em cena com o que eles fazem de melhor, ou seja, atuar”, afirmou Sabatella. Mais tarde, a equipe saberia que Patrícia Pillar, esposa de Ciro Gomes, já havia ensaiado tudo com o político.

“Queremos despertar a atenção do povo para o que acontece na política nacional, mostrando os conchavos, as trocas de favores, escândalos e, principalmente, os romances, já que novela e reality show não dão audiência sem uma cena de beijo”, comentou o diretor. Tanto é que a nova estrela convidada para o elenco do programa é a Miss Brasil Natália Guimarães. O sucesso é garantido.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

De político e louco, todo goleiro tem um pouco

O mais novo adepto do ditado parodiado é o popular goleiro do São Paulo Rogério Ceni, que pretende concorrer nas eleições municipais deste ano ao cargo de prefeito de Pato Branco, sua cidade natal no interior do Paraná. A investida política foi fruto de uma conversa com outros dois companheiros de profissão que também não se limitaram a proteger o gol em suas carreiras no futebol. A reunião contou com a presença de um quarto elemento, escolado no assunto.

Conhecido pelas defesas espetaculares e a cabeleira quase tão bela quanto do colega Carlos Valderrama, o colombiano René Higuita anunciou que deseja chegar ao Senado em seu país com um discurso socialista de admiração ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, e pela libertação dos reféns das Farc. Já o polêmico paraguaio José Luis Chilavert, escolhido por duas vezes o melhor goleiro do mundo, disse, por várias vezes, que será presidente de seu país, o que pode se concretizar nas eleições deste ano.

A vontade de entrar para a política atingiu Rogério Ceni durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, pouco antes da reeleição de Lula em 2006. Na ocasião, o goleiro do São Paulo disse que votaria em Geraldo Alckmin, pois não concordava com os rumos que o governo petista estava dando ao país. Na entrevista, ele percebeu que não era difícil ir além das tradicionais frases que incluem expressões como “levantar a cabeça”, “ganhar os três pontos” e “treinar para a próxima partida”.

Mas quem era o quarto elemento no encontro? Um goleiro que marcou a história do futebol sem ser artilheiro e trilhou o caminho da política depois de se aposentar dos gramados. Trata-se de João Leite, o maior arqueiro de todos os tempos no Atlético Mineiro, onde jogou por 15 anos. Foi vereador, deputado estadual e candidato a prefeito de Belo Horizonte por duas vezes. A orientação do experiente político das Minas Gerais aos outros três colegas foi simples: “sejam atletas de cristo”.

Em terra de candidatos como o atacante Viola e a bandeirinha capa de Playboy, Ana Paula Oliveira, Rogério Ceni não se intimida. Quer ser o sucessor do atual prefeito de Pato Branco, Roberto Viganó. O apoio que o goleiro precisava na candidatura virá de outra celebridade futebolística que nasceu na cidade, o atacante Alexandre Pato, jogador do italiano Milan. As propostas políticas ainda não foram traçadas e podem nunca existir, mas alguém duvida de mais uma vitória de Ceni?